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Como amante de cinema, estarei escrevendo neste blog sobre o assunto. Aqui você poderá ver informações, críticas amadoras, comentários, expectativas, opiniões e curiosidades sobre filmes e artistas. Boa leitura!

O Bem Amado


Com relação aos filmes brasileiros, gostaria de dizer antes de tudo que sou firmemente contra a Lei de Audiovisual.

Primeiro, porque o governo dá isenção fiscal para as empresas patrocinarem filmes brasileiros, o que na prática significa que eu e você financiamos esses filmes, diferentemente do que ocorre em Holywood, onde o setor privado banca tudo e paga generosos impostos ao governo.

Em segundo, porque os filmes brasileiros NÃO SE PAGAM. A bilheteria não compensa os custos da produção em 99,99% dos lançamentos. Todos dão prejuízo, com meia dúzia de exceções nos últimos vinte anos.

Em terceiro, porque, acaso essa lei não existisse, o Brasil seria poupado de alguns dos momentos mais contrangedores e ridículos de sua história, registrados em filmes de nacionais de quinta categoria, em verdadeiras aulas de como NÃO se fazer um filme, e que poderiam ter poupado milhões de reais dos contribuintes.

Mas esqueçamos minha raiva do cinema nacional e passemos ao filme.

Com muitos poréns, devo dizer que O Bem Amado é um filme bom, fiel ao clássico de Dias Gomes, atual e bem divertido na caricaturização que faz do Brasil. Reúne alguns dos melhores atores que o Brasil dispõe hoje, apesar dos escorregos dos coadjuvantes, que são ruins, e de que o Odorico Paraguaçu, representado pelo sempre ótimo Marco Nanini, e o jornalista Vladmir Castro (Tonico Pereira), em algumas falas parecem ter problemas de dicção, são simplesmente incompreensíveis. Repete outros lapsos do cinema brasileiro como a falta de sutileza e a infantilização dos personagens, mas ainda é uma prova de que o Brasil tem nas comédias seu ponto forte, e que o melhor diretor brasileiro hoje, é mesmo o Guel Arraes (de O Auto da Compadecida e Lisbela e o Prisioneiro).


O Bem Amado tem um forte apelo regional, Sucupira é uma cidade fictícia localizada no interior da Bahia, os sotaques e o caipirismo desses nordestinos lembram muito alguns filmes anteriores do diretor, retrata bem a dicotomia política vivida pelo Brasil de hoje e denuncia francamente a corrupção que existe tanto na direita quanto na esquerda. Em um trecho, acusado pelo repórter da cidade de aceitar propina, o jornalista Vladimir retruca: "Não é propina. É a desapropriação do capital burguês em favor da revolução socialista". Dá pra rir em vários momentos, mas não chega a ser fascinante como outras obras do diretor.

O filme conta a história do prefeito Odorico Paraguaçu, que gasta todo o dinheiro da prefeitura com uma obra eleitoreira e super-faturada, o cemitério municipal, e narra seu tormento político atrás de um defunto, já que passados dois anos ainda não morreu ninguém na cidade que justificasse o tremendo gasto, para desespero do prefeito e delírio da oposição. Daí se seguem cenas tragi-cômicas, com o prefeito importando um doente em estado terminal para a cidade e nomeando um matador profissional para xerife, tudo para arranjar um cadáver que atenue a revolta do povo. O pobre Odorico terminará sendo o 1º hospéde do cemitério que ele mesmo construiu.

Vai agradar os brasileiros e somente a estes. Se o Brasil tentar inserí-lo em alguma mostra internacional, não irá repercutir, é um filme regressista, que mostra o que a América Latina ainda tem de pior, uma reunião de atentados contra todos os padrões morais civilizatórios como a ética, a honestidade (são coisas diferentes), o respeito pelo próximo e o senso de cidadania. Ao rir nesse filme, estamos rindo de nós mesmos, de nós enquanto povo, e da nossa absoluta incapacidade em obedecer às leis.

2 comentários:

Folha Reflexiva disse...

Também não sou a favor desta história de o governo patrocinar o cinema, isto é uma marca marxista deixada pelos cineastas da década de 70, um atraso para o país. Quanto aos filmes brasileiros vem ganhando qualidade nos últimos anos, grandes sucessos como Dois filhos de Francisco, Auto da Comadecida,Tropa de Elite foram um sucesso. O filme brasileiro só precisa de um trabalho de mídia mais eficaz, em vez do governo fazer filmes deveria incentivar o consumo deles produzido pela iniciativa privada.

Unknown disse...

O filme realmente é muito bom, divertido, capaz de arrancar boas risadas, mas achei um pouco "corrido", talvez pela riqueza de detalhes e o tempo limitado para apresentar tudo... uma novela (como já aconteceu) ou uma mini-série apresentaria melhor essa obra!

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